POR QUE DESISTIMOS TÃO FÁCIL?
Essa reflexão começou a partir de uma conversa excelente que tive com um amigo. Nela falávamos dos desafios de prosseguirmos adiante em nossos objetivos e sonhos até o sucesso, sem desistir. Falávamos também do desafio de liderar um time, um grupo, uma equipe… rumo a um único objetivo em que cada um tem papeis diferentes.
Daí ele me fez as três seguintes perguntas:
_ Fernanda, você já teve vontade de desistir em seus projetos particulares e sociais?
_ como faz para manter-se motivada?
_ como motiva os outros?
Foram perguntas bem interessantes e que parei pra pensar antes de ousar-me em respondê-las. E as respostas viraram uma baita reflexão para mim e para ele. E meu desejo em compartilhar isso com você, é proporcionar a você também uma boa reflexão – e partir dela, quem sabe, um crescimento e um amadurecimento. Então vamos devagar e por partes.
Se já tive vontades de desistir em meus projetos? Sim, muitas vezes – mas várias e várias vezes. Inclusive, antes mesmo de começar a ousar neles. Só que observei algo que me fez entender muitas coisas. O que estava por de trás quando a vontade de desistir aparecia? O autoconhecimento me fez ir na origem; e lá na origem, trabalhar tudo. Explico melhor:
Todas as vezes que pensei em desistir com algo que havia me proposto a fazer, encontrei as seguintes raízes:
Medo de fracassar. Talvez este seja o mais comum em todos nós. “O medo de perder sufoca a desejo de ganhar”. Flávio Augusto da Silva. E sufoca porque ele te vence, te mantem na inércia, no anonimato, na “zona de conforto”. Esta sociedade não nos preparou para o fracasso. Despreparados, não ousamos se quer tentarmos. E quando tentamos e fracassamos, a mesma sociedade que não nos preparou, ela nos ridiculiza em praça pública, debocha da nossa cara e, se bobear, nos condena ao fracasso eterno por causa de um único e tão somente único fracasso. Sim, bastou um só para nos condenar a derrota eterna. E nós o que fazemos? Aceitamos. E o pior, acreditamos nesta sentença covarde e nunca mais ousamos em nossos sonhos e projetos. Identificar esta raiz como válvula propulsora que me leva a desistir, seja já no percurso ou antes mesmo de tentar, foi essencial na reformulação dos meus pensamentos. Foi preciso trabalhar e mudar muita coisa na minha cabecinha. Foi preciso reprogramar a modelo mental. Primeiro, entendendo que o erro faz parte de qualquer um que simplesmente decida caminhar. Não existe caminhada sem erros, sem decepções, sem fracassos… foi preciso entender e aceitar que fracassar era e é sim um risco real. Não entro nos meus projetos pra fracassar, é claro que não. Porém, entro neles consciente que eu posso sim fracassar. E se isso acontecer, aconteceu. Não vou morrer por causa disso e to me lixando pro o que os outros vão pensar. E a opinião dos outros já se torna também uma boa raiz para que a árvore do desanimo e da vontade de desistir cresça e floresça.
Medo do que os outros vão pensar: Chego até pensar que por vezes não é do erro e do fracasso que tememos, mas sim do que os outros vão pensar de nós. Pensa comigo e veja se isso faz sentido pra você também: quando ousamos em algum projeto e sonho, saímos da inércia e entramos em ação. E quando entramos em ação, chamamos atenção, (ohh viu que até rimou?!) Rs. E isso acontece tanto para projetos pessoais como para os sociais também. Ex: seu projeto é passar no vestibular de medicina? Para isso você vai precisar dedicar horas e horas de estudo, correto?! Como fazer isso sem que sua mãe, seu pai, irmãos e amigos não percebam? Não dá né! Então, ousar em seus sonhos é ser visto por uma plateia, por menor que seja. E por termos um EGO, uma imagem – não queremos que essa plateia nos vaiem, queremos que esta plateia nos aplaudam. E só de pensar na possibilidade de recebermos uma vaia, vixe, nosso EGO grita e grita alto. E o medo que nos impede de ao menos tentar, acaba sendo um sistema de defesa deste EGO que quer com o que quer ser visto, e não só visto, mas aplaudido. Quando entendi e vi isso em mim, tive que me preparar para o erro e para o fracasso, mesmo não os querendo, mas tive que ter esta consciência que errar e fracassar é um risco real, e que com certeza, por causa disso, encontrarei belas vaias daqueles que lá no começo já pensavam: “eu sabia que você não iria muito longe, eu sabia! ”. Parece meio louco pensar assim quando planejamos um projeto e um sonho: “posso não conseguir, serei vaiada por isso a partir do momento que decidi ousar neste sonho e fracassar. Não é o que quero, não é para isso que vou trabalhar, mas isso pode acontecer. E se acontecer, aconteceu! Talvez acontece porque não dei o melhor de mim, ou até dei, mas aconteceu. Vai ser doloroso e decepcionante demais? Vai sim! Mas farei disso um aprendizado muito maior. Não deixarei a experiência do fracasso ser inútil, tirarei dela lições que me farão ainda mais forte e preparada para o próximo projeto. ” Não parece louco? Que seja! Mas posso lhe assegurar que é um louco consciente (isso mesmo que leu, louco consciente rs. Se não existe esta fórmula aí, acabei de inventar) um louco que se permite voar e voar de forma leve e ao mesmo tempo ousada. A opinião dos outros não mudará minha essência. Se for preciso minha imagem e meu ego estarem por baixo por um período de tempo, que estejam. Mas será para o meu crescimento e amadurecimento. Amém, Senhor!
Cansaço: Sim, tai um motivo porque muitos desistem no meio do caminho. É a coisa mais natural do mundo não termos ânimo de seguir em frente quando estamos cansados. É até a linha natural das coisas. E ao invés de simplesmente parar e descansar quando o corpo e a alma já não aguentam mais, nós já sucumbimos e desistimos de continuar a caminhada. Eu já “chutei o balde” e chutarei quantas vezes for preciso quando ver que preciso parar com a rotina de trabalho duro em direção ao meu sonho, para simplesmente cuidar de mim. Desligo o celular, viajo, vou pro mato, me escondo em qualquer lugar… e só uma coisa importa neste momento: descansar e recarregar as forças. Portanto, aceitar o seu cansaço como parte natural nesta caminhada até seus sonhos é essencial. E verás que o que você precisará fazer neste momento não é desistir. E sim por alguns dias, “chutar o balde” mesmo e descansar.
Falta de apoio. Esse acontece muito e é bem frustrante. Pois, geralmente, acontece daqueles que menos esperávamos. Mas percebi que esta foi a maneira mais eficaz de medir minha determinação em alcançar meus objetivos. Pois continuar caminhando sem o apoio daqueles com quem você mais contava, é tarefa para gigante e para um verdadeiro campeão! Mas aprendi também que da mesma forma que o apoio lhe falta daqueles que você mais contava, ele lhe aparecerá daqueles que menos se esperava. Tudo é questão de paciência, coragem, foco e de determinação. Você tem tudo isso aí?
Imediatismo. Vivemos em uma sociedade cada vez mais líquida. Li um artigo muito interessante de Zygmunt Bauman, onde ele falava sobre o conceito da “Sociedade Líquida”. Ele afirma que vivemos num tempo marcado pela flexibilidade, que provoca uma certa fragilidade no que tange nossas relações sobre as coisas ou pessoas. Essa sociedade líquida é comparada com a água, em razão deste elemento natural de ter a potencialidade de alterar sua forma conforme seu recipiente. Observe bem como nós estamos tendo essa característica instável, nos moldando conforme o andar da carruagem. Perdeu-se o aspecto durável e sólido das coisas, tudo é passível de mudança num estalo de dedos. Imagine a quantidade de sins que você já deu sem pensar? Quantas vezes você simplesmente decidiu: “vou fazer isso! Vou entrar neste projeto!” Daí eu lhe questiono: você parou pra pensar? Fez análise swot? Trabalhou os ganhos e as perdas? Identificou os sabotares externos e internos? Trabalhou a mudança integral em seus 4 quadrantes? Trabalhou sua gestão de tempo? Identificou e trabalhou seus medos? Trabalhou seu objetivo no Padrão Smart? Trabalhou os motivos internos que te impulsiona à ação? Enfim, fez isso tudo antes da largada? Sem medo de errar, 99% de nós não fazemos nada disso. Desistimos tão facilmente porque infelizmente, estamos perdendo a graça da espera. É preciso tempo para trabalhar o nosso autoconhecimento, nos perguntarmos, por que queremos o que queremos? Aonde queremos chegar com este projeto e sonho? É preciso tempo para planejar e buscar aperfeiçoar-se. É preciso tempo para plantar, regar, matar as possíveis pragas, reinventar-se… Até a chegada do tempo para colheita. Entende só porque os imediatistas desistem tão rápido? Imagina só você sem a menor prática de atividade física e decidi que amanhã vai correr uma maratona? Vai dar certo isso?
Insatisfação com o outro. Este acontece demais quando se trata de objetivos, projetos e sonhos solidários, trabalhos em conjunto para ser bem clara. Ex: empresas, times, equipes, grupos sociais e religiosos, projetos sociais etc. Nos dispomos a caminhar juntos na construção de um mesmo objetivo, mas desistimos facilmente quando nos sentimos insatisfeitos com o outro que também se colocou nesta jornada. E essa insatisfação surge por diversas razões. Vai desde a percepção da falta de comprometimento do outro, limitação física, financeira, intelectual e até emocional do outro, diferenças nas formas de pensar e agir do outro, algum atrito de relacionamento com o outro… até quando vemos que o outro desistiu e simplesmente desistimos também. Isso acontece demais, não acontece?! Não quero entrar no motivo da insatisfação em si, porque isso, sinceramente, não interessa muito não. Se você já se viu nesta situação, preciso lhe dizer o que talvez alguém já até quis lhe dizer, mas não teve coragem. O que justifica sua decisão de desistir de caminhar, não é sua insatisfação com o outro, mas é uma insatisfação consigo próprio. Sim, o problema está em você! E você se justifica no problema do outro para ser o primeiro a cair fora. E detalhe: pela minha experiência, observei que aqueles que no começo se demonstram os mais “motivados”, engajados, entusiasmados etc., são geralmente os primeiros a pular fora – geralmente se justificando por causa da sua insatisfação com o modo como o outro encara o projeto, o sonho, o objetivo… o que for. Sei que é pesado o que vou lhe dizer, entretanto, não posso deixar de dizer-lhe que quando isso acontece, revela em nós inúmeras imperfeições. Eh meu amigo, isso já aconteceu comigo. Cair fora de projetos e ideais bacanas demais em sua causa, porque desisti me justificando na fraqueza do outro. Na verdade, mesmo, eu tentava era esconder a minha fraqueza. Medo, orgulho, impaciência, intolerância, prepotência etc.
É bem próprio do orgulhoso manifestar uma irritada intolerância com os defeitos do próximo. Pare para observar isso e verás que não minto. É próprio do medroso se esquivar de seus deveres se justificando em mil e uma desculpa.
Não foi uma e nem duas vezes que isso aconteceu comigo. Foram várias as vezes que me aborreci por demais com a lerdeza do outro, com a falta de comprometimento do outro, com a falta de iniciativa etc., e frases do tipo: “Você nunca faz nada direito”, “parece mentira que não tenha um pingo de sensatez”, “não há quem o aguente”, “já chega”, “não dá mais – só eu que faço as coisas como tem que ser feitas”, “basta, desisto de tentar… já borbulharam em meus pensamentos. E nos seus, já?
E não é fácil chegarmos a maturidade de entender que na verdade mesmo essas são formas que encontramos de admirar a nós mesmos como um “deus”; julgamos intolerável que os demais não fossem “à nossa imagem e semelhança”. Por isso, nos vemos continuamente a voltar nosso olhar, de modo humilhante, nos defeitos que somos incapazes de compreender nos outros ao nosso redor. Quanta pobreza e fraqueza interior meu Deus! Como temos tanto a crescer…, mas a pergunta é: será mesmo que queremos crescer? Pense nisso um pouquinho antes de seguir adiante com a leitura 😉
Então, veja bem o que quero que você entenda. Não estou lhe dizendo que é errado desistir. Você é livre para tomar qualquer decisão que julgue ser necessária tomar. Mas quero te levar a reflexões profundas sobre as possíveis raízes que te levam a isso. Quero que entenda que com essa incapacidade para a compreensão do outro que é diferente de nós, é natural que deixemos o orgulho, o medo e tantas outras mazelas em nós florescer. É natural que nos cansemo-nos, e esse cansaço em face dos demais é outra forma – não menos dolorosa – de menosprezo. O que é bem triste.
Você já percebeu que quando trabalhamos em prol de uma causa social, para o bem comum, desistimos tão facilmente? Eu me pergunto: Por que desistimos? Será, porventura, porque amamos demais? Esperamos demais? Confiamos demais?
Não, certamente não. É porque nos amamos demasiado a nós mesmos, porque nos adoramos como a um pequeno ídolo, e por isso exigimos dos outros as qualidades que nos satisfazem e que “servem” a nossa satisfação.
Quantas vezes eu e você tentamos modelar o outro como argila, de acordo com o modelo que idealizamos para tão somente atender a nossa satisfação pessoal?
E quando não conseguimos? Vem daí a explicação que explique nosso desanimo e nossa decisão de desistirmos. Desculpe-me, mas talvez você precisava ler isso!
Hoje se fala muito de motivação. As pessoas investem em algo ou alguém que lhe gerem motivações. Posso ser sincera? Besteira isso! Ninguém motiva ninguém. Pois a motivação – motivo para ação – vem de dentro, não de fora. É preciso você olhar para dentro de você e encontrar os seus motivos para entrar em ação e querer o que quer. O máximo que podemos fazer, é gerarmos estímulos. Pois esse sim vem de fora. E muitas das vezes as pessoas entram juntas para construírem algo, se logo desistem, é possível que seja justamente porque dentro delas, jamais ouve motivos para agirem. Se agiram, foi por algum estímulo externo, e quando agimos só por estímulos, não vamos muito longe. É PRECISO QUE HAJA DENTRO DE NÓS MOTIVAÇÃO. Não delegue isso a ninguém!
Para fechar tudo isso em uma única frase: ESPERE MENOS DOS OUTROS E MAIS DE VOCÊ. Dê o seu melhor independentemente da forma como o outro age e quanto age. Agarra-se na causa e nos frutos. Tenha um olhar de compressão para com o outro. Ajude-o a crescer sendo você uma pessoa melhor a cada dia.
Bem, escrevi tanto que até eu cansei. Espero ter conseguido despertar em você um incomodo e um desconforto com tudo que leu. Espero ter tocado mesmo na ferida…porque eu realmente escrevo para gerar incomodo, desconforto e reflexões. Porque sei que as grandes transformações interiores só acontecem a partir do incomodo, do desconforto e das reflexões.
Obrigada por sua leitura e paciência.
Boa semana!
Com carinho e amor,
Fer
p.s. Talvez compreenderemos melhor o que se passa conosco se percebermos que, devido ao nosso egoísmo e à nossa autossuficiência, a primeira coisa que notamos nos outros é a sombra que os seus defeitos projetam sobre o espelho dos nossos próprios defeitos. Por outras palavras, os defeitos alheios incomodam-nos precisamente porque ferem um defeito nosso. Pense nisso com carinho.
Leave A Comment